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O segredo molecular por trás do efeito relaxante da lavanda

Entenda o efeito relaxante da lavanda em um nível molecular

Para entender melhor o efeito relaxante da lavanda em um nível molecular, é importante explorar como os compostos ativos, especialmente o linalol e o acetato de linalila, interagem com sistemas específicos do cérebro e dos processos bioquímicos associados ao estresse e ao relaxamento.

 Interação com receptores GABA-A

O linalol e o acetato de linalila, principais  componentes do óleo essencial de lavanda, trabalham em sinergia e interagem diretamente com os receptores GABA-A, que são canais iônicos localizados na membrana dos neurônios. Esses receptores são responsáveis pela mediação dos efeitos inibitórios do neurotransmissor GABA (ácido gama-aminobutírico), o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central. Quando o GABA se liga ao receptor GABA-A, o canal iônico se abre, permitindo a entrada de íons cloreto (Cl-) nas células neuronais. Isso leva a uma hiperpolarização da membrana neuronal, diminuindo a excitabilidade e a probabilidade de disparo de potenciais de ação, o que resulta em um efeito calmante.

Estudos mostram que o linalol e o acetato de linalila podem potencializar a atividade dos receptores GABA-A, aumentando a eficácia do GABA natural no cérebro. Essa ação moduladora dos canais de cloreto pode explicar a redução dos sintomas de ansiedade e estresse, pois promove a inibição de vias neurais hiperativas associadas a esses estados emocionais.

Influência na neuroplasticidade e expressão gênica

Além da modulação dos receptores GABA-A, há evidências de que a lavanda pode influenciar a expressão gênica relacionada ao estresse e à neuroplasticidade. A exposição ao linalol pode alterar a expressão de genes envolvidos na produção de fatores neurotróficos, como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF). O BDNF é fundamental para a plasticidade sináptica e a capacidade do cérebro de se adaptar a mudanças e se recuperar de lesões emocionais. A modulação da expressão de BDNF pode facilitar a recuperação emocional após traumas, como o coração partido, promovendo a resiliência e o fortalecimento das conexões neurais em áreas do cérebro relacionadas ao processamento emocional.

O acetato de linalila também tem sido estudado por suas propriedades ansiolíticas, o que significa que ele pode ajudar a reduzir a ansiedade. A inalação de óleo essencial de lavanda, rico em acetato de linalila, demonstrou melhorar o humor e diminuir os níveis de cortisol, um hormônio relacionado ao estresse.

Efeito nos sistemas serotoninérgico e dopaminérgico

A lavanda também afeta os sistemas serotoninérgico e dopaminérgico, que são centrais na regulação do humor e das emoções. O linalol pode atuar como um modulador da serotonina, aumentando sua disponibilidade na fenda sináptica ao inibir a ação da enzima monoamina oxidase (MAO), que degrada neurotransmissores como a serotonina e a dopamina. A elevação dos níveis de serotonina é associada a uma melhora no humor e na redução dos sintomas de depressão e ansiedade. Já o sistema dopaminérgico, que é crucial para a motivação e o prazer, pode ser positivamente influenciado pela lavanda, ajudando a atenuar sentimentos de apatia e tristeza profunda que frequentemente acompanham a dor emocional.

Redução do ritmo cardíaco e pressão arterial

Alguns estudos indicam que o acetato de linalila pode ajudar a diminuir a frequência cardíaca e a pressão arterial, induzindo um estado de relaxamento. Esse efeito pode ser benéfico para pessoas que experimentam sintomas físicos de ansiedade, como aumento do batimento cardíaco.

Interação com o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA)

A exposição ao aroma da lavanda também pode influenciar o eixo HPA, que regula a resposta ao estresse. O eixo HPA controla a liberação de hormônios do estresse, como o cortisol. A ativação crônica do eixo HPA em resposta ao estresse pode resultar em níveis elevados de cortisol, que têm efeitos negativos na saúde emocional e física, como problemas de sono e aumento da ansiedade. A lavanda, por meio da redução da atividade do eixo HPA, pode diminuir os níveis de cortisol circulante, facilitando um estado de relaxamento e promovendo a recuperação do equilíbrio homeostático. Essa modulação é crucial para ajudar a aliviar os sintomas físicos e emocionais associados ao estresse agudo, como os que surgem após um rompimento amoroso.

 Regulação dos receptores NMDA

Os receptores NMDA (N-metil-D-aspartato) são envolvidos na transmissão sináptica e na plasticidade neuronal, processos críticos para a aprendizagem e a memória. Durante o estresse emocional, a hiperatividade dos receptores NMDA pode contribuir para o aumento da excitação neuronal e exacerbar a sensação de desconforto emocional. O linalol demonstrou efeitos antagonistas leves sobre os receptores NMDA, o que pode ajudar a reduzir a excitabilidade sináptica excessiva e, assim, diminuir a intensidade das respostas emocionais aversivas.

Esses mecanismos moleculares combinados ajudam a explicar por que a lavanda pode induzir um estado profundo de relaxamento e fornecer alívio emocional. Ao atuar simultaneamente em múltiplos sistemas neuroquímicos e vias regulatórias, a lavanda cria uma abordagem abrangente para promover a calma, facilitando o processo de cura emocional e ajudando a restaurar o equilíbrio psicológico após um período de estresse significativo, como o de um coração partido.

 

Referências

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  2. Koulivand, P. H., Khaleghi Ghadiri, M., & Gorji, A. (2013). Lavender and the nervous system. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, 2013.
  3. Akhondzadeh, S., Kashani, L., Mobaseri, M., Hosseini, S. H., Nikzad, S., Khani, M., & Jamshidi, A. H. (2003). Lavender oil in the treatment of migraine headache: A placebo-controlled clinical trial. European Neurology, 50(3), 227-231.
  4. Umezu, T., Nagano, K., Ito, H., & Kosakai, K. (2006). Anticonflict effects of lavender oil and identification of its active constituents. Phytomedicine, 13(7), 468-473.
  5. Cavanagh, H. M. A., & Wilkinson, J. M. (2002). Biological activities of lavender essential oil. Phytotherapy Research, 16(4), 301-308.

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